terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Reflexão da Quaresma [1]

Com a imposição das cinzas, inicia-se uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que se quer preparar dignamente para viver o Mistério Pascal.

Este tempo vigoroso do Ano litúrgico caracteriza-se pela mensagem bíblica que pode ser resumida numa palavra: " matanoeiete", que quer dizer "Convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" e com a expressão "Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A sugestiva cerimônia das cinzas eleva as nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, Deus; princípio e fim, alfa e ômega da nossa existência. A conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz da sua verdade. Na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Esta tradição da Igreja ficou como um simples serviço em algumas Igrejas protestantes como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma desde a segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas.

Nos primeiros séculos, não havia um período de preparação para a Pascóa, limitando-se ao jejum nos dois ou três dias precedentes. O Historiador Sócrates († 439) atesta pela primeira vez para o século IV, um tempo de preparação da Pascóa de três semanas de jejum, excepto sábados e domingos. Depois do Vaticano II, a Quaresma foi reformada segundo os critérios da Sacrosanctum Concilium, que indicou o seu sentido fundamental: "do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Baptismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistéio pascal". (n.109)

A Quaresma vai desde a Quarta feira de Cinzas até à Missa da Ceia do Senhor exclusive.Este ano litúrgico (ano B), terá um itinerário cristocênctrico-pascal que orienta a nossa atenção para a Pascóa de Cristo. A Quaresma é assim um "sacramento", um "sinal sagrado". A Quaresma no seu conjunto de palavra que anuncia os acontecimentos da salvação, orações, ritos e práticas escéticas, é um grande sinal sacramental, mediante o qual a Igreja participa no mistério de Cristo que por nós realiza a experiência do deserto, jejua, sai vitorioso da tentação, escolhendo o caminho de servo humilde e sofredor até à cruz.

Neste tempo somos convidados a colocar de parte tudo o que é secundário para a nossa vida para verfificar até que ponto nós somos deste mundo ou do outro, ou seja, para termos em conta as nossas capacidades de deixar o que nos prende e limita o nosso caminho de atingir a Deus, caminho verdade e vida.


Nuno Monteiro

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